O Sonho Digital da URSS: A História Não Contada da Cibernética Soviética
O Sonho Digital da URSS: A História Não Contada da Cibernética Soviética
Quando pensamos na Guerra Fria e na tecnologia, a mente frequentemente nos remete à corrida espacial, aos satélites e aos mísseis nucleares. Mas, por trás da Cortina de Ferro, desenrolava-se um esforço tecnológico igualmente ambicioso e pouco conhecido: a tentativa da União Soviética de criar uma vasta cibernética soviética que pudesse otimizar e gerenciar a totalidade da sua economia planificada. Este projeto visionário, em muitos aspectos, antecipou a própria internet.
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A Cibernética na Linha de Fogo Ideológica
A história da computação soviética começou com um paradoxo ideológico. Nos anos 1950, a cibernética—a ciência de controle e comunicação em sistemas complexos, tanto em máquinas quanto em organismos—foi inicialmente rejeitada pelo Partido Comunista. Rotulada como uma "pseudociência burguesa", ela era vista como uma ameaça aos princípios do materialismo dialético e ao controle centralizado. A ideia de que sistemas pudessem se autorregular ou que máquinas pudessem processar informações de maneira autônoma parecia contrariar a primazia do planejamento humano e da razão proletária.
Essa hostilidade inicial atrasou significativamente o desenvolvimento de computadores na URSS. No entanto, um grupo de cientistas soviéticos, liderados por figuras como A.I. Berg e o matemático ucraniano Viktor Glushkov, lutou para reverter essa percepção. Eles argumentaram que a cibernética não era uma ameaça, mas uma ferramenta essencial. Ao invés de uma ciência ocidental de "controle", eles a apresentaram como uma ciência de "gerenciamento ótimo", crucial para modernizar a vastíssima e frequentemente ineficiente economia soviética.
O ponto de virada veio com Nikita Khrushchev. Sob sua liderança, a cibernética foi oficialmente "reabilitada" e abraçada como um motor para o progresso socialista. A tecnologia foi vista não apenas como uma ferramenta para o complexo militar, mas como um meio de superar as dificuldades econômicas.
OGAS: A Rede Nacional de Informação e Gestão
O pico da ambição soviética em cibernética foi o projeto OGAS (Obshchegosudarstvennaya Avtomatizirovannaya Sistema, ou Sistema Nacional de Informação e Gestão). Idealizado por Glushkov na década de 1960, o OGAS não era apenas um mainframe para cálculos; era uma proposta para criar uma rede nacional de computadores interconectados.
O objetivo de Glushkov era audacioso: revolucionar a economia soviética. O OGAS teria coletado e processado informações em tempo real sobre produção, distribuição e consumo em todo o país. A meta era eliminar os gargalos burocráticos e tornar o planejamento centralizado mais rápido, preciso e eficiente. Era, em essência, o plano para uma "internet" econômica centralizada, décadas antes da internet ocidental se tornar uma realidade global.
Glushkov visualizava o OGAS com três níveis hierárquicos:
Centros de Computação Regionais: Servindo cidades e regiões.
Centros Setoriais: Gerenciando indústrias específicas (metalurgia, agricultura, etc.).Para Glushkov, o OGAS era o próximo passo lógico do socialismo: uma transição do planejamento manual e ineficiente para um "e-socialismo" baseado na automação e na cibernética.
O Fim do Sonho Digital
Apesar de seu potencial e dos avanços científicos, o OGAS nunca foi totalmente implementado. A história de seu fracasso é um testemunho fascinante das complexidades da política e da burocracia soviéticas.
O projeto encontrou uma resistência feroz, não apenas de ideólogos conservadores, mas da própria burocracia do planejamento central. Ministérios e gerentes de fábricas viam no OGAS uma ameaça direta ao seu poder. A automação e a transparência propostas por Glushkov teriam tornado muitos cargos redundantes e, mais crucialmente, exposto ineficiências e corrupção sistêmicas.
Além disso, o custo do projeto era proibitivo. Glushkov defendia a necessidade de investir maciçamente em hardware de alta qualidade e infraestrutura de comunicação, mas a liderança soviética, pressionada por outras prioridades (principalmente a corrida armamentista), hesitou em financiar o projeto na escala necessária.
Em 1970, o projeto foi efetivamente desmantelado. A URSS optou por uma abordagem mais fragmentada, desenvolvendo computadores isolados para usos específicos em fábricas, em vez de uma rede unificada.
O Legado de uma Visão Trágica
O fracasso do OGAS foi uma oportunidade perdida para a União Soviética. Embora não tenha sido a causa da queda da URSS, ele simboliza a incapacidade do sistema de se adaptar à era da informação. A cibernética soviética revela uma história de inovação visionária reprimida pela inércia política.
O projeto OGAS permanece como um dos maiores "e se" da história da computação: uma visão de uma rede que poderia ter rivalizado com a internet ocidental, mas que acabou sucumbindo às resistências internas de um sistema que temia a própria eficiência que buscava.
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